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  Tuesday, November 26, 2002  

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Universidades Públicas

Há 2 anos atrás eu perambulava pela Filadélfia, na Universidade da Pensilvânia, só prá melhorar o inglesinho. Por 2 meses andei caipirescamente boquiaberto por aquele campus por onde já passeou Benjamin Franklin, me valendo de inúmeras e elegantes bibliotecas, com rápidos e potentes computadores, centenas de periódicos à mão, sofás confortáveis e cappucinos fresquinhos. Prá melhorar a receita a justificar a existência, tinha ainda professores de primeira linha. Some-se a isso a decoração dos caminhos verdejantes e estrutura esportiva olímpica e o pacote está completo. Não há como não sair de lá, digamos, “estudado”. Aí me lembro das universidades em que estudei no Brasil e dou longo e desanimado suspiro...

O debate é antigo e datado. Mas o tema continua atual. A velha história de se o governo tem ou não que financiar universidade pública encontrou agora um novo dado para os defensores do Estado mínimo. A The Economist informa que o sistema universitário inglês está falido. Isso mesmo. Quebradinho.

Segundo o periódico inglês há culpados. E desta vez não foram os hooligans. O governo bretão, ao contrário da ex-colônia, teria aumentado irresponsavelmente a quota de estudantes admitidos na universidade pública não paga. O déficit então vinha aumentando, aumentando, aumentando e agora tomou forma rechonchuda, sem regimes à vista.

De volta ao Brasil, o tema ainda é tabu. Se no governo FHC o assunto já era discretamente evitado, com medo da acusação de néo-liberal, com o néo-popular governo Lula então vai virar palavrão.

De minha parte universidade pública deveria ser paga.

Como pagar? Em cash, no cartão, a prazo, via bolsa, em prestação, através de serviço, escambo ou qualquer inventiva forma capitalista. Assim não limita-se acesso a somente quem tem dinheiro, além de obrigar nossa tradicional mimada juventude a correr atrás dos tostões investidos. Pois já é de longa data provado que quem tem acesso universitário aumenta o nível da renda. Ou seja, é um benefício privado que deve ser arcado pelo benefiicário e não por toda a sociedade.

Com a educação elementar a coisa é diferente. A pirâmide de benefícios é invertida e vale o imposto da população. O que não dá é ver a escola primária em regime de contas enquanto gente barbada não paga um centavo prá ter acesso ao nível superior. Mas aí vem o dogma, que nos mantém catolicamente com a vergonha do lucro e o pastiche terceiro mundista do Estado pai-de-todos.

Enquanto isso, na América, a do Norte, rapazes de Harvard e Yale esbanjam de nossa ignorância e cobram fortunas dos moços paulistas pelo salivado MBA. Os moços são aqueles mesmos que pagam os MBA com as economias feitas nas universidades públicas brasileiras, mantidas em seu status-quo de mamute pelos gritos raivosos da patuléia anti privatização.

Acorda PT! Uma mudança de tática agora não lhe dará a pecha de incoerente. Prometemos ficar discretamente em silêncio consentido. E, se não resistindo, lembrarmos do velho passado “anti-anti”, se salve com o ditado: “Coerência nada mais é do que ser tão burro hoje como no ano passado”. Pronto. Tudo estará resolvido. E o Brasil mais educado.


Em tempo...

A previsão é de que neve na madrugada. Se se confirmar, volto amanhã com o deslumbre de menino. E pitadas de espanto piracicabano...

posted by The guy behind a screen @ 6:20 PM |

  Friday, November 22, 2002  

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Diga Não a Farsa Francesa

Meu amigo polako Freddy Bilyk que me desculpe, mas se tem algo que me deixa fulo em Nova York é me deparar com essas modelos brasileiras espalhadas pelos bares do Soho explicando sobre a cultura nacional ao gringo interessado mais na sua, digamos, “qualitée phisique”. Lá pelas tantas, no meio de tantos adjetivos sobre as belezas brasileiras, circunscritos à infinita escala de “lindos” e “máximos", a menina resolve explicar como se faz caipirinha: “Limão, açúcar, gelo e.......vodka’. Vodka??!! Tenho logo que meter o bedelho na conversa, atrapalhar a cantada do gringo e fazer a correção necessária. Afinal de contas, o que aconteceu com a cachaça?

A substituição da cachaça pela vodka na bebida nacional talvez seja uma das maiores provas do nosso terceiro-mundismo. Ao invés de incentivarmos, fomentarmos e exportamos nossos talentos, incorporamos práticas alienígenas. Pois se há algo que se dá conta quando vivendo no exterior é o quanto o nosso país tem valores não aproveitados. O sucesso de nossa música além-mar talvez seja o único produto relativamente bem explorado atualmente. Mas ainda assim é frágil. Se fosse bem trabalhado seria como o basquete americano. A supremacia seria infinita.

Mas preferimos continuar ao som dessa estranha mistura de nacionalismo desmedido e macaquismo servil. Escancaramos ao mundo nosso amor pela terra brasilis, nossas “saudades” de nosso país, o quanto somos festeiros e simpáticos e, ao mesmo tempo, engolimos a seco qualquer bobagem que nos é vendida.

Não, esse não é mais um discurso nacionalista afinado com o governo que vem por aí. Mas é que estamos em novembro e restaurantes da cidade começam a espalhar cartazes da chegada do tal Beaujolais Nouveau, essa mistura de resto de uva com pitadas de vanila, comandado pelo sabor da banana e vendido a peso de ouro.

O Beaujolais Nouveau talvez seja a maior farsa francesa desde que Émile Zola denunciou o “affaire Dreyfus”. É uma farsa porém consentida e rentável, com a cumplicidade silenciosa dos enólogos do mundo afora e discretos sussuros entre produtores de vinhos franceses, rindo da ignorância americana.

Tudo bem, é um grande truque de marketing e faz parte do jogo. Mas o que não dá é prá comprar essa enganação e silenciarmos sobre nossa cachaça! Enquanto os franceses pegam a raspa da uva, o fundinho de borra (eu disse borra) da garrafa e envolvem tudo com a estampa de um selo colorido despachando à classe média deslumbrada do mundo afora, nós relegamos o néctar nacional ao pobre coitado, ao jeca tatu do campo, ao café da manhã dos pedreiros.

O mundo inteiro aplaude o Beaujolais Nouveau, festeja o run, se afoga no whiskey e se embriaga na Vódka. Mas ninguém conhece a cachaça. E nós continuamos aqui, macaquiando como sempre, jogando a pinga aos porcos e comprando em dólar do inimigo!

Faço um apelo portanto para uma nova campanha cívica. Por favor, aproveite os novos ares nacionalistas e entre no clima do novo governo. Não precisa exagerar e ir para o “petróleo é nosso”. Basta apenas dizer NÃO A FARSA FRANCESA! E, mesmo que em casa prefira a vodka, saia ao mundo afora vendendo nossa cachaça....

O Brasil, bêbado mas ainda consciente, agradece de joelhos.


posted by The guy behind a screen @ 11:21 AM |

  Wednesday, November 20, 2002  

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Noites de Inverno Não Causam Maiores Estragos

4:30 da tarde. Já é noite em Nova York. Tem muita gente que se deprime com esse anúncio sombrio da proximidade do inverno. Da minha parte, não faço a mínima, ou melhor, gosto dessa repentina troca de cores. É o descanso necessário para o frenesi do verão, a alegria desmedida que contagia o hemisfério norte nas longas noites de calor. É também um convite ao recolhimento consentido, às noites de leitura e aos prazeres da mesa e da alcova. É bom, portanto. E combina com a cidade, com o peso das sombras e o desbotado de cores de seus edifícios.

Estações são religiosamente precisas em Nova York. Bateu no calendário que chegou o outono e as folhas parecem que são avisadas que é tempo de amarelar de medo do frio. Mudou a folhinha da Pirelli pra dezembro e as árvores ficam peladas na rua. É batata. Não falha.

Sou daqueles que se filiam à corrente sociológica que explica em parte as mazelas e vitórias de um povo pelo grau de violência que o sol bate na cabeça. Acredito também que todo o humor de um país é forjado ao relento. Já imaginou o que seria da malandragem carioca sem a brisa constante? Ou da tal “locomotiva paulista” sem a irritação da garoa? Ou ainda do sotaque arrastado baiano sem o sol à 30 graus? Pra mim parte do problema do país está também nessa falta de balanço entre as estações, que no Brasil costuma convidar à constância de humor e manutenção do estilo. Como criar uma revolução se não é preciso nem trocar de roupa?

Mas há ainda outras vantagens da precisão das estações aqui por essas bandas norte-americanas. Toda a programação da cidade é ajustada aos efeitos do tempo. O calendário musical por exemplo, só começa em novembro, em noites de gala no Carnegie Hall. É como se fosse uma heresia estabelecer um concerto a portas fechadas quando o sol ainda canta alto lá fora. Os restaurantes também se ajustam às estações, num leva e traz das mesas nas calçadas e um constante acende e apaga de lareiras.

O único desfalque do inverno fica por conta do preço pago pela sua elegância. Se é verdade que todo mundo acaba ficando chique no desfile de sobretudos pela cidade, esses longos casacos de pele e cashmere acabam escondendo virtudes do verão: as pernas torneadas, as cinturas afuniladas e, claro, o derrière feminino. Mas não há motivo pra choro e nem clima pra desespero. Num país desbundado como este, o inverno acaba não causando grandes e maiores estragos...


posted by The guy behind a screen @ 5:47 PM |

  Sunday, November 17, 2002  

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Sobre Bolsas

Não se sabe bem ao certo quando o hábito começou, mas a impressão que se tem é que ele sempre esteve aqui, enraizado na cidade como as colunas do Empire States na 5a Avenida. Há notícias, porém, de que o uso indiscriminado das bolsas e valises pelos homens novaiorquinos teve início nos 80, coincidindo com a febre das academias de ginástica, numa sucessão de eventos iniciados para dar espaço às garrafinhas d'água e roupas de esporte. Há controvérsias contudo, embora o assunto não desperte maior curiosidade.

Não se discute, porém, o fenômeno em si. Se você é um estrangeiro que acabou de chegar à cidade não vai demorar muito pra perceber que o número de homens portando uma recheada bolsa a tiracolo está acima da média de outras metrópoles do mundo. De onde vêm e prá onde vão carregando tanta coisa?

Mas há algo de curioso nesse hábito novaiorquino. As bolsas devolveram ao homem a liberdade que era antes só concedida ao universo feminino. Com as bolsas os homens retomaram seu ancestral nomadismo e a sensação de liberdade que os acompanha. A idéia de que se tudo der errado, passa-se a mão na bolsa e começa-se outra vida em lugar distante. A imprevisibilidade que veio na ressaca dos eventos de 11 de setembro reforçou de vez essa crença.

Há mais. Pois com as bolsas, os homens também podem deixar a casa a qualquer momento, largar tudo e correr pro aeroporto. Não são mais prerrogativas feminina os utensílios básicos a tiracolo, que concedia à mulher a injusta vantagem de poder dar o pé no companheiro sem ter que depois passar em casa pra buscar a carteira e correr o risco de amolecer na decisão já tomada. Não é à toa que a mulher costuma não voltar atrás na impiedosa pancada. Tem à mão a bolsa! Mas agora não... Agora está tudo em pé de igualdade. A bolsa é a NOSSA revolução feminista.

Há ainda outra vantagem, essa agora pertencente a ambos os sexos. As bolsas nos redimem da culpa. Sem ela, justificamos a fuga da academia, o relatório não entregue, o telefonema não dado (“Ihhhh, esqueci a bolsa no escritório. Vamos beber. Que se dane a ginástica!”). É o elemento aleatório que posterga todas as decisões já atrasadas, a lista de tarefas não feitas, as obrigações do dia a dia não cumpridas. É o caso fortuito, o fato inesperado, a força maior ao alcance de nosso controle. É a desculpa que nos faltava. É o dia de chuva que nos livra da culpa da cama prolongada.

Quanto a mim, confesso sem ruborizar. Adotei sem freios esse hábito novaiorquino. Mantenho sempre uma bolsa cruzada no peito pra qualquer ocasião inesperada, sem me importar com o peso e os eventuais desfalques de estilo. Claro, quero todas suas vantagens:

Esqueço-a quando é preciso...

posted by The guy behind a screen @ 5:13 PM |

  Tuesday, November 12, 2002  

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Rio 37oC - Impressões de um fim-de-semana carioca

Poucas cidades no mundo conseguem te pegar ao mesmo tempo pelo deslumbramento do impacto inicial e pelo cativar do dia após dia. Em geral, ou é um ou é outro. Nova York, por exemplo, é mais apreciada na vivência diária, nas comodidades que através do dia a dia a cidade te oferece e no lento descobrir de seus espaços públicos e privados. É no contínuo vasculhar de seus escondidos restaurantes, de sua multi-racial massa humana acomodada nos bolsões e guetos da cidade, que se sente o cheiro da diversidade, o colorido cosmopolita em todas as suas formas. Assim também com Londres. Mas, em ambos, leva-se certo tempo. O choque da primeira vista para alguns não é tão comovedor. Não há referencial suficiente para te retirar do mundo convencional e te transportar ao imaginário pré-configurado. A mostruosidade de seus arranha-céus não é tão mostruosa onde tudo é gigantesco. Aqui, até as falecidas torres gêmeas não pareciam assim tão grandes.

Não é assim com outras cidades. Paris, por exemplo, desde a chegada é um suspiro de interjeições desconexas, sussuros boquiabertos pela sua perfeição arquitetônica. É um “oh” atrás do outro, que só encontra pausa na parada para o “café au lait”, o “pain chocolat” e para a fileira de queijos e baguetes. Paris tem ainda a vantagem de esconder maravilhas em cada esquina, que também só a vivência diária te permite descobrir por completo. É, portanto, na minha opinião, um passo além ao universo novaiorquino.

Mas aí há o Rio. O Rio tem tanto o deslumbramento da chegada como o encantamento cotidiano, adicionado à cordialidade brasileira. A cidade consegue te dar ao mesmo tempo a emoção do primeiro beijo e te convidar docemente para o dia a dia do casamento. Promete a um só tempo paixão arrebatora, tesão desmedido, e amor constante, companheirismo renovável. Mergulha-se nos botecos após o encanto inicial e relaxa-se na suavidade do chopp, na cordialidade do serviço, na falta de protocolo desmedida. Não é a toa que estrangeiro chega e não quer mais voltar.

Há, claro, o reverso da moeda. A cordialidade por vezes vai além do combinado. A gentileza vira intimidade que dá lugar à folga generalizada, que termina na esculhambação sem limites. Esse o risco de se viver no fio da navalha da malandragem. O que é virtude pode virar pecado num deslizar de conduta. O shortinho vira fio de dental, a bossa nova vira funk, o baseado vira cocaína, a malandragem vira bandidagem. Não é fácil viver no paraíso e não morder a maçã do desequilíbrio. Quem viveu os tempos de Éden carioca pode dizer com maior propriedade.

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Carioca nem mais repara. Assim como acostuma-se à portentosidade da Grand Central e ao gigantismo dos edifícios de Manhattan, acostuma-se também à pefeição dos bunbums cariocas. Alí entre o posto 9 e o posto 10 há mais bundinhas perfeitas que toda a população de rinocerantes que habita a terra. Se se instalar um corpo de jurados, ficaria como aquelas provas de ginástica nas olimpíadas. Não tem nota 7 ou 8. É tudo 9.7, 9.9, 10. Ou então como dissertação acadêmica: 10 com louvor, recomendado para publicação. No caso, porém, a editora Vozes não seria apropriada para a publicação...Mas não preciso dizer o nome do editora mais adequada, preciso?

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Nunca consegui tomar um suco decente em Nova York. Depois de certo tempo, vicia-se em Snapple, o mate-leão americano. Nada se compara, porém, à longa lista de sucos naturais oferecidos em cada esquina do Rio. A infinidade de combinações e variedades de frutas é tão grande que parece uma lista de vinhos franceses. Deveriam pendurar junto àqueles quadros fixados na parede, o título: “Carta de Sucos”. Se quiserem esnobar, dá até pra dividir por região de origem e no pé do menu, pregar o justo título: “Denominação de Origem Controlada”.

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Não vi, senti ou sofri nem um clima ou indício de violência na região Leblon-Ipanema-Gávea. Ao contrário de São Paulo, onde o assalto corpo-a-corpo virou rotina nos bairros nobres, parece que o Rio não sofre mais de terrorismo cotidiano nas zonas abastadas. Claro, há a violência burocratizada. Meu táxi, por exemplo, teve que desviar da avenida “X”, porque a polícia estava, candidamente, trocando tiros em vias públicas com traficantes. Arrisco um palpite explicativo. Acho que o número de gente empregada pelo tráfico é tão grande que não vale mais a pena se submeter às migalhas do botim do assalto à mão armada. O tráfico é mais lucrativo e traz muito mais poder e status. Na minha opinião, não há solução. Ou se vende tudo em farmácia, com bula e imposto recolhido, ou simplesmente faz-se um acordo tácito com o morro onde tolera-se o comércio e pactua-se a não agressão recíproca. Ao menos evita-se a bala perdida...

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Um sábio amigo meu diz que do segundo ao vigésimo chopp a função da bebida é só de se esquecer a emoção do primeiro copo. Nem sei se é bem isso. Mas confesso que o primeiro “garotinho” do Bracarense me fez os olhos encherem de lágrimas.

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Voltando pra Manhattan, vejo o quanto Tom Jobim tinha razão, na frase que ficou famosa: “Nova York é do caralho, mas é uma merda. O Rio é uma merda, mas é do caralho”. Podem jogar todos os tratados sociológicos na lata do lixo. Nada mais é preciso se escrever a respeito. E vamos todos pro Jobi!

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Num fim-de-semana carioca, nunca me senti tão brasileiro. E nunca senti tanta falta desta terra querida...

posted by The guy behind a screen @ 12:56 PM |

  Thursday, November 07, 2002  

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Cidade Maravilhosa

Deixo por alguns dias da ilha de Manhattan e mergulho na ilha da fantasia brasileira. Se encontrar um computador entre o trajeto Jobi/Bracarense e conseguir movimentar os dedos da mão, mando minhas impressões cariocas. Senão, me afogo no chopp nacional até que me acordem do sonho perfeito e me lembrem que a terra de Jobim é agora o palco de Rosinha et alii. Aí não vai ter jeito. Taco os biscoitos Globo na mala e volto correndo pra matriz...


posted by The guy behind a screen @ 10:13 AM |

  Tuesday, November 05, 2002  

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Starbucks é sinal de que ainda há esperança

Os EUA têm uma longa tradição mundial pela representação e simbologia de suas corporações. Algumas delas viraram até alvos de raivosos ataques anti-globalizantes, esse esquisito neologismo, perpetrados por surreais movimentos sem pé nem cabeça na já consagrada linha do “anti-tudo”, primos próximos do “salve o urso panda”.

Muitas das corporações americanas até mereceriam o ataque. A razão, porém, é outra, e não deve ser confundida com as bobagens do antiamericanismo. O problema é o desserviço que prestam ao produto, vivendo sempre na armadilha ditada pelo consumo de massa.

Essas corporações conquistaram seu espaço mundial baseadas no forte apelo da marca, eficiência e padronização do serviço e acessibilidade do preço. O produto, sempre foi mero detalhe. Foi assim com a Virgin Records, é assim com a Blockbuster, continuará sempre assim com o McDonalds. Se não está a fim de explicar para o atendente que o Burt Bacharach não é nenhum novo hit branco do mundo rap, não entra na Virgin. Se você quer um bom hamburguer, não vai ao McDonalds, sobretudo aqui nos EUA, onde bons hamburguers abundam. Se quiser algo além do “último filme do...”, também não procura a blockbuster.

Esse o lado negro das corporações, que destroem a atividade personalizada e escasseiam os produtos de qualidade. Não vou fazer aqui o contrapeso do aspecto econômico, do sustentáculo capitalista que as corporações representam, etc., etc. Isso é papel que o Serra deveria ter assumido, e fez mal, fez pela metade. O resultado esta aí.

Mas eis que há esperança.

Há quem não conheça, então vale a pergunta. Já tomastes café no Starbucks? Se nunca, então quando estiver por estas paragens, experimente. Pois a Starbucks, que é uma cadeia norte-americano de cafeterias (está agora se tornando internacional), violou todos os postulados corporativos americanos. Vejamos:

(i) o Produto. É famoso o tal do café americano, uma mistura em grande proporção de água com algo escuro, cujo aroma lembra o café. Pois bem. Acabou a brincadeira. Se você tiver mal gosto, ainda pode achar essa porcaria por aí, mas se quiser beber café de verdade, vai na Starbucks.

(ii) o Tempo. É muito comum, sobretudo em N.York, você ser expulso da mesa. Nem bem terminou a refeição e lá vem uma garçonete sorridente com a sua conta. “But...”. Não, ela já se foi. Só lhe resta pagar e dar o fora, antes que seja despejado a pontapés. Na Starbucks, pode-se ficar horas a fio sem ninguém lhe incomodar, como se fosse parisiense.

(iii) o Ambiente. Lembra daquelas franquias com luz fria, com cartazes coloridos, onde você engolia o café rapidinho e se mandava? Nada disso, no Starbucks, apesar de manter a mesma cara em todas lojas, toca-se Coltrane, há grandes poltronas de veludo e a luz, estrategicamente disposta, convida ao relaxamento.

Mais do que isso, a Starbucks bancou o papel sócio-educativo, ao “ensinar” o americano médio a beber café. Em vez de assumir a fácil postura do “tudo é uma questão de gosto” e a “ditadura da maioria” no consumo das massas, optou pelo risco de dizer: “Tom, o que você anda bebendo é uma porcaria. Já que você gosta de gastar seus bônus de fim-de-ano em Paris, vamos aprender a ser civilizado?”. Apostou também de que as pessoas querem um lugar de congregação, onde possam conversar desapressadamente. Muita gente rifou a tia de que não ia dar certo, que ninguém pagaria U$ 3.00 dólares por um copo de café. No final, as tias tiveram que ser entregues e a cadeia anda agora se espalhando pelo mundo.

Um amigo meu, arquiteto de bom gosto, vivia sempre brigando com seus clientes e, apesar de viver na pindaíba, continua no seu sacerdócio de que é preciso educar o gosto destratado dos olhos desatentos. No mundo apressado de hoje, nem sempre é fácil. Mas a empreitada às vezes é recompensadora. Ao menos vale o cafézinho.

posted by The guy behind a screen @ 3:49 PM |

  Monday, November 04, 2002  

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Vanity, oh vanity...

Se quiser votar neste site para o ibest, vá na seção de links ao lado. Al Pacino tinha razão...



posted by The guy behind a screen @ 3:36 PM |

  Sunday, November 03, 2002  

[ 83987011 ]
 

(....)THE RESTAURANT

Como havia prometido a mim mesmo, enquanto mais de 30.000 pessoas espalhavam pelas ruas de Nova York toneladas de calorias vaporizadas, não me esforcei muito para fazer o percurso inverso, ingerindo incontáveis garfadas de colesteral, fantasiadas em forma de suculento e colorido omelete. Não sinto culpa alguma. Dedico-me ao esporte com afinco e traições aos cereais e às verduras refogadas são como os pequenos erros de português: não prejudicam o resultado final, desde que em doses moderadas. Além do mais, como diz um amigo irlândes fã de Guiness, “a genética te mata antes”. É o argumento definitivo. E ponto final.

Há milhares de lugares em Manhattan para fugir da dieta alimentar. Gosto dos mais tradicionais, naqueles ambientes nos quais se sentem efetivamente em território americano, em experiência gastro-antropológica. Não é só a comida, portanto. Há também essa comunhão com a localidade, onde a classe média novaiorquina exerce sua repetição cotidiana, em intermináveis domingos com a família. A melhor pedida, pois, são os chamados “diners” (dáiners), algo similar com a lanchonete brasileira.

Cruzo a cidade, em diagonal de sudeste a noroeste e vou parar nas bordas da Columbia, a universidade chique da Manhattan. Depois de uma vasculhada pelas livrarias da região, o frio da manhã de outono acelera a fome. Pois logo alí ao lado, a surpresa, o THE RESTAURANT, o restaurante do Seinfeld!

Se você, meu caro, está na idade adulta e nunca assistiu Seinfeld, não sabe o que está perdendo. Seinfeld é o que de mais fino se produziu nos seriados enlatados americanos nos últimos 50 anos. É o Woody Allen sem crise existencial, mais moço e resolvido. Seinfeld é o típico personagem novaiorquino: judeu, solteiro, entre 30 e 40, vivendo sempre em Manhatan (quando não no seu próprio bairro) e despretensiosamente ignorando tudo o que se passa fora da ilha. Na sua própria definição, o seriado é absolutamente sobre o “nada”. Ou seja, simples ou absurdas situações cotidianas transformadas em pérolas do nonsense.

O curioso, porém, é que por anos a fio, toda e recorrente cena no tal do “THE RESTAURANT”, veio assim, com o nome dessa maneira, encobrindo o nome inteiro. Coisas de copyright. Pois agora finalmente descobri: chama-se “TOM’S THE RESTAURANT". O menu? Os ovos mexidos, salsichas e panquecas de sempre. O serviço? Um lixo. O preço? Uma maravilha. Se for visitar a Columbia, vale a parada. Depois, faça a digestão dando um pulo na livraria da esquina, Labyrinth, uma das melhores da Nova York, que sobreviveu ao genocídio cultural perpetrado pelo exército Barnes & Noble. Se tiver comido muito, vai o aviso amigo: fuja do primeiro andar. Está coalhado de autores feministas e toda a chata turminha francesa: caras como Pierre Bourdieu e Louis Althusser abundam. Evite para fugir das náuseas. Não há banheiros na loja.

posted by The guy behind a screen @ 8:08 PM |

  Friday, November 01, 2002  

[ 83892525 ]
 

O Economista

Leio a reportagem sobre a eleição de Lula na The Economist, a voz da razão com sotaque britânico. Esfrego os olhos por um instante. Tenho a nítida impressão que estou lendo canetadas dos Mesquita, escrevendo em inglês. Às vezes a Economist parece o Estadão em versão exportação. Claro, com o fino humor britânico, que não encaixa bem entre os cristão novos.


Caça às Bruxas

Ontem foi Haloween por aqui. Leio no Polzonoff que o hábito está se tornando comum entre os nacionais. Demorou. Não há limites para nossa macaquice e acho estranho que não tenhamos ainda assimilado de vez. Não vejo problemas. É uma festa divertida. Aqui em NY a cidade inteira se fantasia e o barato é ficar andando pelas ruas, pulando de festa em festa e escorrengando em goles de Guiness. Há enfermeiras e mulheres-maravilha nas calçadas. Para os chegados, há Robbins e bumbuns com pelugem de fora. O difícil, muitas vezes, é saber quem está fantasiado só pra ocasião. Nova York comporta todas sub-espécies de homo sapiens sapiens...


Haloween

Aos amigos da Unicamp e da Ciências Socias, Filosofia e Letras da USP: Já começou a caça às bruxas ou só vale no calendário volta-às-aulas da posse?


Haloween + Caça às Bruxas

Leio em Olavo de Carvalho, com o qual não simpatizo, que o professor André Singer, filho do famoso Paul Singer, está liderando um processo inquisitorial contra sites anti lulismo, especificamente contra o www.antilula.blogspot.com.br. Chequei e realmente o site está fora do ar. Se realmente for verdade, André Singer estará só dando razão aos preconceitos que eu nutria contra ele, quando fui seu aluno nas Ciências Sociais da USP. Singer tinha achaques patrulhadores, como todos os outros, mas parecia manter distância dos extremismo. Os gelados olhos azuis de Singer, porém, sempre estiveram prontos pra desfraldar sua acadêmica beka democrática. Para o bem deste governo, espero que tudo isso seja um grande e lamentável equívoco.


Marathon

Está 7oC lá fora. Frio civilizado. No fim de semana, o programa manda você assistir a Maratona. Já que não vou correr, vou só ver de relance. Domingo é dia sagrado por aqui. É dia em que se reza a ave-maria dos ovos mexidos e percorre-se salmos calóricos nos menus dos brunchs pelos restaurantes da cidade. É a versão deles pro nosso prolongado choppinho com os amigos.

posted by The guy behind a screen @ 1:45 PM |

segredos da nossa
Língua Portuguesa
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