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  Friday, January 31, 2003  

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O Médico que Virou Físico

Passando pelo Brasil, bato o olho num livro do Noah Gordon, um best seller em nossa terra. O livro chama-se “O Físico”. Dou uma olhada nas páginas internas e descubro que o título original é “The Physician”, o que em inglês significa médico clínico. “Físico”, na língua daqui de cima, traduz-se por “physicist”. Bom, isso foi no título do livro. Agora imagine você aqueles diálogos lá pelo capítulo 15 quando fulaninho tenta explicar pra fulaninha seus sentimentos por ela, com todas as nuances e interjeições das conversas entre moços e moças. É capaz de, na tradução, o relacionamento terminar.

É por essas e outras que fico nos livros de línguas que decifro, no original. Tradução é nova obra. Tolstoi vai ficar pra outras vidas...


Cappucino d´origine controlée

Tem coisa melhor do que fugir de –15oC na rua e entrar numa dessas Starbucks pra tomar um cappucino quentinho? Eu sei que tem, mas nao por U$ 4.95...

Ah, por favor, não faça a conta em reais. Senão seu café vira vinho.

posted by The guy behind a screen @ 8:57 AM |

  Wednesday, January 29, 2003  

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Depois do discurso de ontem, o escritório de Saddan deve estar assim...

posted by The guy behind a screen @ 8:37 AM |

  Tuesday, January 28, 2003  

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The Super Bowl

Milhões de pessoas, da Califórnia á Nova York, do Nebraska à Flórida, passando pelos Estados do Alabama e Arkansas, se debruçaram em frente a uma TV domingo a noite. Espaços públicos e privados por todo o país ficaram lotados por uma eclética (não tão eclética assim) platéia. E milhões de hamburguers e Budweisers foram consumidos.

Domingo foi dia de Super Bowl nos Estados Unidos. Pra quem não sabe, Super Bowl é a final do campeonato de futebol-americano, algo que, provavelmente por razões de marketing, em vez de chamarem de “Final”, valem-se de um nome pomposo como este de “Super Bowl”. Mas essencialmente é o jogo da decisão, que define o campeão nacional. Nada, porém, tem a ver com nossas finais de campeonato.

Esporte nos EUA é parte do grande pacote de entretenimento. E é um dos entretenimentos. Já havia reparado nas finais de baseball e do basquete, e o ritual se repete com o Super Bowl. Primeiro, há uma grande festa em torno do jogo. Como no Brasil em finais de Copa, homens e mulheres se aglomeram em frente de TVs, bebem e comem enquanto o jogo vai durando horas a fio. Mas a semelhança para por aí. E por que? Porque diferentemente de nós, brasileiros, que depositamos amor e lágrimas em nossos heróis, que sofremos em interminávies flagrantes de unhas a roer diante das câmeras, eles, os americanos, fazem dos seus ídolos meros talentos de circo. Em cada bar e roda de amigos são feitas apostas em cima do resultado do jogo, que se parece mais com um grande prêmio de turfe.

Quantos de nós vamos pro estádio ou ficamos pregados na TV em busca de um resultado por um valor apostado? Em 25 anos de arquibancada não me lembro de uma só vez ter ouvido falar de amigo que apostou dinheiro no resultado do jogo. Claro, há sempre aquelas coisas de “caixa de cerveja” entre os íntimos. Mas o objeto da aposta aqui é mais um simbolismo adicional ao resultado obtido, um agregado que sacramenta a vitória e a gozação sobre a vítima, do que o dinheiro em si. Pouco importa o dinheiro quando nosso time perdeu o campeonato.

Na América não. Aqui, tudo é business. Para se ter uma idéia de como a coisa é encarada, basta olhar o que ocorreu na véspera do jogo. Antes, vale um esclarecimento: 30 segundos de uma propaganda na TV nos intervalos do Super Bowl são tão caros (U$ 2 milhões), que os anunciantes procuram dar o melhor de si. Tradicionalmente, portanto, esses anúncios acabaram ficando famosos. Feita a explicação, a pesquisa da CNN perguntava aos seus telespectadores, sem ruborizar: “Do you watch the game for the game or for the comercials?” (“Você assiste ao jogo pelo jogo em si ou pelos comerciais?”). Basta ouvir isso e não é sequer preciso ler Tocqueville pra entender esse país. Já tá tudo explicado.

Vendo domingo o jogo entre telespectadores desatentos, conversas em paralelo e apostas sem fim, senti falta de minhas tardes de sol no Morumbi, onde só a emoção do gol e as lágrimas das derrotas ou vitórias é que realmente contavam. Ao fim do jogo americano, as câmeras concentram-se nos rostos dos torcedores, dirigentes e atletas vitoriosos. Mas não há faces ternamente emocionadas. E longos abraços entre amigos são substituídos por tapas no ar com a mão espalmada. O que se vê, sem exceção, são expressões de vitória militar, em comemoração pela derrota do inimigo. Muito distante do nosso caldo de emoção com hinos de Lamartine Babo ao fundo.

Felizmente, porém, acabado o Super Bowl, tomei a pé o caminho de casa. E pra minha alegria começou a nevar nas ruas de Manhattan. Por 10 minutos pude então sentir a emoção que 4 horas de jogo não trouxeram. E desconfio, sem medo de errar, que não fui o único...

posted by The guy behind a screen @ 8:13 AM |

  Monday, January 27, 2003  

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Ainda Ele

Hoje é dia “D” por aqui. Os inspetores da ONU vêm com mais um relatório. Como bem lembrou e explicou Freddy Bilyk, hoje também é o dia em que Bush abre os trabalhos legislativos no Congresso americano, no que se convencionou chamar de State of the Union Address. O palco está montado pra guerra ser declarada.

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É inevitável. Vejo o Bush falar nessa história do Iraque e me vem a lembrança daqueles grisalhos e esvoaçantes cabelos do Itamar, anunciando que ia reeditar o Fusca. Até o olhar, de criador de canários, é parecido. Os dois têm uma incrível capacidade pra ressuscitar agendas.

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Bush quer ir à guerra de qualquer jeito. Na versão texana do “ame-o ou deixe-o”, quer agora, mesmo sem apoio das grandes potências, com exceção, como sempre, da ilhota britânica, arrancar uma coalizão com os países do Leste Europeu. É como se o São Paulo se rebelasse e quisesse montar uma nova liga do campeonato brasileiro e chamar pra patota o XV de Piracicaba, o Capivariano e a Ferroviária de Araraquara. Ah, claro, com convite especial para o Palmeiras.

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Nixon disse certa vez que toda a imprensa americana era judia e, por isso, contralava as notícias em seu favor. Não sei se é verdade ou não, mas lendo os periódicos por aqui e ouvindo a CNN e seus priminhos mais pobres, tem-se a impressão que estamos em Cuba, no regime de um discurso só. Todos pró-guerra.

Tirando o New York Times, a exceção mesmo não vem da imprensa escrita, menos ainda do tubo da TV. Está no rádio. A única rádio que presta em Nova York e contesta o radicalismo de Bush chama-se WNYC, que é a rádio que transmite os programas da NPR (National Public Radio), a melhor rádio de todos os EUA. Meu chefe, republicano, chama a rádio de comunista. Bobagem. Os programas são sofisticados e inteligentes e é feito para o americano bem acima da média, do tipo que não ouve Rap na MTV. E o melhor, dá pra ouvir na internet. Aos sábados e domingos, um programa que é Nova York pura. Tem o nome do seu apresentador: Jonathan Schwartz. A voz de veludo mais charmosa do rádio toca Frank The Voice Sinatra e otras cositas más. O fino da cultura americana. Check it out.

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Os EUA são um país tão democrático, mas tão democrático, que qualquer idiota pode se eleger presidente. Bush é a affirmative action em pessoa. A prova que faltava de que esse negócio é perigoso. Does it sound familiar to you?

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Tinha parado de ler Paul Krugman no New York Times porque de tanto criticar Bush comecei a duvidar da sua seriedade como economista. Pois é, voltei a ler.

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Bush é determinado, ninguém pode negar. Mas é do tipo de determinação de um comandante Rolin. Sobre uma carcaça meio tosca constrói-se um caráter de pedra. Se for para o bem, faz-se uma TAM. Se for para o mal, faz-se a guerra.

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David Frum, o ex-speechwriter de Bush, recentemente publicou um livro sobre o antigo chefe: The Right Man – The Surprise Presidency of George W. Brush. O New York Review of Books desta semana publica a resenha. O livro é laudatório e Frum é fiel ao ex-chefe. Mas lá pelas tantas Frum solta o que todo mundo já sabe, só de olhar pra cara de Bush: “...he is often uncurious and as a result ill informed”. Nada a adicionar.

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Ontem foi a final do futebol-americano por aqui. Merece comentários. Amanhã. Amanhã.

posted by The guy behind a screen @ 8:24 AM |

  Saturday, January 25, 2003  

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Meat wants meat

Já é noite em Nova York e me pego pendurado na tela do computador. Antes de ir checar o que anda rolando na Manhattan de carne e osso, não resisto a uma passadinha por bites e bytes de energia. Há toda uma cidade pulsando lá fora e a tela continua a manejar sua varinha de condão mágica que acaba jogando a sessão de cinema pra meia-noite. Quantas horas nos debruçamos sobre essas coisas? Contando o dia inteiro que um advogado, por ossos do ofício, gruda na tela, mais os passeios noturnos entre sites coloridos, entra na casa de dois dígitos.

Há gente que vê isso como uma ameaça. Anos atrás diziam que o vídeo acabaria com o cinema, pondo todo mundo pra dentro de casa. A mazela social, previam, tanto no caso do vídeo como essa agora trazida pelo computador, seria a conseqüente e inevitável extinção das relações sociais. Ou ao menos diminuição considerável delas. A turma de sociológos de bar e também seus conhecidos da Academia aproveitou a deixa e escreveu, discorrendo e propalando a derrocada do humano. Venderam livros e ocuparam milhares de horas da TV e do rádio. Como mola de apoio, meteram a culpa no tal do “capitalismo”. Tudo por causa das maquininhas inimigas e as ambições de lucro sem limite, afirmavam.

Voltei há pouco do trabalho. A lua já está de velha, faz quase –10oC lá fora e a cidade continua apinhada de gente andando apressada e perfumada. São casacos longos cobrindo coisas vivas que saem e entram de bares, cinemas, teatros, cafeterias, restaurantes, livrarias, lojas, em encontros públicos ou às escondidas. Isso sem falar nas pessoas que vagam à esmo, gente cruzando praças semi iluminadas, indo do nada pra lugar algum. Tudo em busca de emoção, da mais simples à mais sofisticada, do papo afinado ou daquelas que só o dólar pode comprar.

A verdade, meus caros, é que não há força artificial que empurre o humano pra caverna. Por mais atemorizantes que essas novas invenções soem a primeiro instante, acabam engolidas e absorvidas no rol dos entretenimentos. Assim como o capitalismo acaba no final vendendo broche do “foice e martelo”, a força dos desejos naturais acaba engolindo e absorvendo seus aparentes opositores. Mas o resultado final sempre termina no humano. Gente quer gente. Quer ver, falar, ouvir, pegar, esfregar. Quer também rir e chorar. Tudo sempre em companhia, não importa se de amigos ou desconhecidos. É a eterna churrascaria civilizatória no giragril da metrópole. Não há nada que a detenha.

Nem o tal do Pentium IV.

posted by The guy behind a screen @ 2:43 PM |

  Thursday, January 23, 2003  

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Coalhada Fresca

Já faz quase uma semana que a temperatua não sai da casa dos zero em Nova York. Não importa. Quem tem Kibe Loco não liga pro frio lá fora. Casseta & Planeta que se cuide. Ainda ouviremos falar muito desse rapaz...

posted by The guy behind a screen @ 4:08 PM |

   

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Abraham Lincoln chora a morte de Kennedy. Agora deve estar chorando pelo pai-criador.

Bill Mauldin

Tem sido uma semana negra para os cartunistas. Primeiro foi Al Hirschfeld que disse adeus. Agora, é a vez de outro ícone se mandar. Bill Mauldin, o cartunista-sargento, criador de Willie and Joe, os personagens que representaram os soldados heróis americanos na 2a guerra, também guardou sua pena e foi embora. O New York Times de hoje, em sua seção de obituários, conta um pouco quem foi este senhor. Se quiser treinar seu inglês e saber desta história, clique aqui

posted by The guy behind a screen @ 3:59 PM |

  Wednesday, January 22, 2003  

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Um grito de vida no Metrô

O uso do metrô é algo tão arraizado na cultura novaiorquina que só não entra no cartão postal da cidade porque não rompe os limites do céu. Se estivesse na vertical, venderiam sua imagem em forma de camisetas e brochinhos.

Já se disse por aí que pode-se medir o quanto o hábito é parte de uma cultura pelo seu alcance social, ou seja, até onde o tal do hábito rompe os limites do bolso e do preconceito e é festejado por toda uma nação, são-paulina ou corinthiana. É assim com nossa paixão pelo futebol, pela mania do “jeitinho”, pela gentileza desmedida. Claro, há variantes aqui e ali, mais ao sul ou ao norte. Mas o hábito está lá, atrelado ao nosso dia a dia, encapuzado por ternos de bom ou mal gosto ou, mais a vontade e aparente, entre os movimentos dos chinelos de tira.

Pois o metrô de Nova Iorque dá a exata medida da freqüente rudeza de Manhattan, da sobriedade de seus passageiros, tão apressados em “fechar mais um negócio”. E todo mundo cumpre a regrinha de permanecer calado e instrospectivo em seu mundo. Mesmo os artistas e pedintes, que vagam por corredores subterrâneos sem fim, atuam na medida de seu propósito. Dentro do protocolo do esperado.

Pois outro dia alguém rompeu o silêncio.

Estava eu sentado em mais uma viagem de lá pra cá, quando ouço o condutor dizer, sem pestanejar: “Please ladies and gentlemen, pets on the subway are not allowed, don´t bring pets with you on the train”. Soou esquisito, meio estranho. Mas até aí ainda tudo bem, só olhares curiosos haviam se formado. Resolvi aguardar. Aquele tom de voz relaxado e impessoal dava a deixa que ele não estava disposto a parar por ali. “Mr. Conductor” resolvera sair do anonimato aquela amanhã. E estava determinado. Animado e confiante pela ousada primeira frase, desvencilhou-se dos grilhões de sua apertada cabine. Repetiu a sentença, mas agora adicionou algo mágico, algo que abriu clarões de estupefação entre os passageiros:

“Please ladies and gentlemen, pets on the subway are not allowed, don´t bring pets with you on the train. It´s not that I have something against animals, but they are not allowed. Please don´t bring them on the train, keep them at home”. WHAT!!!!

“Mr. Condutor” continuou repetir again and again sua frase, adicionando aqui e ali sua opinião pessoal sobre animais de estimação (pets). Os olhares, sorrisos e risadas no vagão foram se soltando desmedidamente até se transformarem em histéricas e alegres gargalhadas.

Contrariando os 15 minutos de fama, por 1,5 min. nosso desconhecido condutor divorciou-se do protocolo da eterna repetição de seus mecânicos gestos e das frases lidas no manual. E do alto de seu anonimato, como num filme independente que transgride as regras de Hollywood, rompeu a barreira do silêncio num metrô em Manhattan. Por minutos a fio ninguém acreditou no que acabara de ouvir e no quão impactante nos soou aquele revolucionário e simples gesto.

Definitivamente, a moda de quebra de protocolo chegou de vez em Manhattan...

posted by The guy behind a screen @ 5:49 PM |

  Monday, January 20, 2003  

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Dr. Martin Luther King, Jr.

Hoje é feriado nacional na América. Comemora-se o 73o aniversário do maior ativista negro do mundo, o Reverendo Dr. Martin Luther King, Jr.

Os EUA têm muitos heróis nacionais. Gente que ultrapasssou a linha do permitido, instaurou um novo paradigma e pagou caro por isso. Geralmente com a própria vida. São vários os nomes: Abraham Lincoln, Kennedy Jr., Malcon X e o próprio Luther King. Todos assassinados. Não temos nada equivalente. Nossas conquistas sociais sempre foram consentidas, num acordo tácito de cavalheiros. Poucas vezes em nossa história foi necessário recorrer à luta. O mais frequente, antes que a luta se instaurasse, era o acerto de bigodes. O resultado, um arrefecimento de radicalismos de ambos os lados que acaba terminando numa mudança discreta. Mas economiza-se o sangue. É quase inevitável este tipo de solução. O “deixa-pra-lá” está no nosso código genético.

Há muita gente no Brasil que prefereria ver outro quadro pintado, em cores mais fortes. Os partidários do choque radical gostam do rufar dos tambores e de trocadilhos picantes nos slogans de campanha. Acham que só uma revolução (social, política, ideológica), faria de nosso país um nação mais justa. Pessoalmente, tenho horror à essa idéia. Revoluções podem ser mais apaixonantes, mas são menos eficazes e os danos que causam dificilmente são reparáveis. Sobretudo para suas vítimas.

Luther King sabia disso. E por isso, ao contrário de seu conterrâneo Malcon X, o qual lutava também pela mesma causa, escolheu a via pacífica do diálogo. Não do diálogo impositivo, aquele utilizado apenas para aparentar a troca de idéias. Buscava a conquista negociada. E conseguiu o quase impossível: a força de uma pancada e o sopro salvador. Nunca feriu demais suas vítimas. Sempre lhes deu o descanso pro segundo tempo. Era um libertário e democrata. E acreditava nisso. Como era uma dos maiores oradores que esse país já viu, adocicava suas palavras com propostas de reforma, não de revolução.

Mas também era um sonhador. Não daqueles que faz seu sonho uma crença dogmática. Sonhava com uma nação pacificada. Era permissivo às mudanças e aberto a rever suas idéias. Um homem de fé que acreditava não na utopia sem limites, para o qual qualquer sacrifício era justificado, mas numa ética de responsabilidades.

E tinha a coragem que custou sua vida. Ao contrário de seus adversários, escondidos no anonimato covarde de missivas apócrifas, de recados sem mensageiros e de ataques pelas costas, Luther King mostrava sua cara. E assinava suas palavras.

Trinta e cinco anos após sua morte, alguns efeitos de suas lutas podem ser sentidas. E não são poucos. Os EUA são, sem dúvida, uma nação mais justa. Basta lembrar que décadas atrás negros eram obrigados à prisão invisível dos bancos traseiros dos ônibus. E o voto lhes era proibido. Há ainda, é verdade, o ódio racial que Luther King sempre execrou, mas ao menos hoje não se nega a existência de uma democracia real e formalizada, comunidades mais aproximadas e um leque de oportunidades cujo alcance era antes impensável.

Luther King não é apenas um herói nacional e de um grupo racial minoritário. Seu heroísmo pertence a todos nós que bebemos todo dia, sem nos darmos conta, na fonte dos valores democráticos. Deve, portanto, ser celebrado. Em tempos de inegável intolerância, sua voz deve ser lembrada. Muita gente aprenderia com ele. Ainda hoje.

("I have a dream" e mais Luther King aqui)

posted by The guy behind a screen @ 9:25 PM |

  Friday, January 17, 2003  

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"We are fully committed to working with both sides to bring the level of terror down to an acceptable level for both." —George W. Bush, after a meeting with congressional leaders, Washington, D.C., Oct. 2, 2001

Cada país tem o Itamar Franco que merece...Veja mais pérolas do universo de frases bushinianas aqui.

posted by The guy behind a screen @ 9:18 AM |

  Thursday, January 16, 2003  

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Tony, the Barber

Era tiro e queda. Terminado o trabalho, o pequeno Tony convidava o cliente a se olhar no espelho. Antes que houvesse um esboço de reflexão, Little Tony emendava, sem nenhuma modéstia: “Look what I did for you, look at it”. Na seqüência, a tesourada de mestre: recebida as três notas de dez dólares para o corte de US$ 24,00, Tony já as colocava no bolso sem tirar o olhar encurralador lançado ao cliente. Então, o arremate: abrindo um largo sorriso e sem disfarçar o sotaque napolitano que persistia forte após mais de 3 décadas, dava carinhosos tapinhas no rosto do cliente amigo, repetindo a frase 2 vezes: “Thank you bello, thank you”. Já não havia mais tempo, o troco ia pra caixinha do carcamano e não cabia espaço pra reclamações. Toda vez jurava que ia conseguir meu troco, mas não tinha jeito, o homem tesourava meus tostões.

O palco pro show napolitano de roubo à luz do dia era sempre o mesmo. Numa apertada barbearia do Village, Tony destoava dos chiques salões de beleza do bairro e lembrava uma daquelas velhas barbearias de cidade do interior. Soava estranho em Nova York. Usava navalha, esquentava a água, as cadeiras eram de madeira e couro. As revistas para o cliente na espera eram do ano passado. Na parede, uma obsessão. Não se sabia que cor era pintada, pois não havia espaço entre as fotos. Little Tony era um grande fã de Elvis Presley e colava o moço em qualquer espaço vertical. Havia o Elvis jovem e contestador, mas também achava-se o quarentão acabado, gordo de bebedeira. Tony colava todos os momentos do homem do rock na sua barbearia. Tolerava todos seus ups and downs e não fazia críticas. Era fã do seu cabelo.

Como era um perfeccionista, seu corte levava tempo. Tempo suficiente pra se descobrir que entre Elvis Presleys encontrava-se outros rostos menos conhecidos. Havia fotos da família do Tony, da esposa e das crianças. Mas também se achavam corpos esculturais, de moças bronzeadas e bumbuns de fora. As paixões de Tony vinham assim, todas juntas, sem distinção, numa grande caçarola de emoções.

Um dia vi uma foto de uma bela mulher ao lado de uma moto. Não tinha cara de decoração. Perguntei quem era, fazendo menção aos seus talentos aparentes. Tony me interrompeu em tom corretivo, dizendo que ela tinha outros. Era uma motociclista italiana. “Great professional, great profissional”, repetia em tom respeitoso. Como bom italiano, gostava dos motores. E era um esteta, prezava a beleza e pefeição acabada.

Há um mês peguei o telefone pra marcar hora com o Tony. Parei com o telefone na mão, antes de ligar. Era melhor o corte no Brasil, onde os US$ 30,00 poderiam ser substituídos pelos R$ 30,00. Além do mais, provavelmente conseguiria troco, lá no Brasil.

De volta à Manhattan soube que Tony não cortará mais meus cabelos. Tony se foi. Seus longos cochilos durante a tarde, que eu julgava preguiça latina, eram mais sérios. Tony tinha leucemia. Deixou uma parede forrada com expressões de seu ídolo, que agora poderá ver e ouvir de perto. Ficou também uma tesoura encostada e saudades de gente desconhecida, como eu, que fica com imagem do napolitano dando pulos de contentamento quando a rádio CBS da barbearia soltava um hit antigo do Elvis no meio da tarde. Tony então fazia malabarismos no ar com a tesoura e soltava a voz em reverência: “That’s my boy!”. Voltava ao cabelo e ia seguindo a música pelo refrão...

posted by The guy behind a screen @ 11:37 AM |

  Tuesday, January 14, 2003  

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De volta à Manhattan: back to business



posted by The guy behind a screen @ 9:17 AM |

  Monday, January 13, 2003  

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Pôr-do-sol em Floripa? Há discordâncias...

Enfim, chegou ao fim. Lá se foram 3 semanas de descanso e agora é hora de voltar pra Nova York. Na minha última noite tropical sinto um imbroglio estomacal como em vezes antes não sentira. Não sei se são só as razões do coração que dificultam a respiração. Desconfio que algo mudou nesse nosso país a ponto de nos fazer pensar duas vezes antes de corrermos pro aeroporto mais próximo em busca de alternativas. Há gente com resposta pronta pra isso: a esperança, dizem e insistem, venceu o medo. Como o brasileiro é um eterno esperançoso, desconfio do refrão, que me parece de ocasião. A esperança, em minha opinião, sempre existiu. Concordo, houve ocasiões em que ela se escondeu e ficou até envergonhada em dar as caras, mas esteve sempre ali, rondando nossos domingos à noite. Acho que a questão é outra. O medo agora é que está menos assustador. Continua aparecendo no escuro, é verdade, mas pelo menos não chega de surpresa e vai logo avisando o que vai fazer. Causa menos terror. Não houve aumento de esperança.

Dediquei dias de meu ócio na tal da ilha de Florianópolis. Não fosse a recepção calorosa e carinhosa de velhos amigos, teria voltado no vôo seguinte. Ok, talvez em 2 dias. Mas não mais que isso. O que tem Florianópolis que não tem em qualquer praia do litoral brasileiro? Tirando as catarinenses, nada. Aliás, falta tudo. Um oeste a ser conquistado e pulverizado com a pátina civilizatória. Há, claro, a cortesia dos nativos. Mas essa é uma característica nacional e, portanto, não soma pontos comparativos. O que sobra então? Pouco. Mas mesmo assim milhares de paulistas invadem suas praias no verão. Paulistas são como seus ancestrais bandeirantes, vão tomando tudo o que vem pela frente. Trazem modernização e instauram ocupação produtiva. No meio do caminho, claro, vão destruindo tudo o que já estava por lá, em perfeita harmonia estática. Mas acho que sei porque gostam tanto da capital catarinense: não se vai a uma praia sequer em Floripa sem um motor traseiro sobre quatro rodas. Um prato cheio pra paulistano.

Florianópolis por um segundo (talvez um átimo) lembra Manhattan, com suas avenidas ladeadas pelo mar. Há também o fato de ser ilha, em formato semelhante, o que estreita a comparação. Mas é maior, perdendo-se em praias sem que almas humanas surjam pelo caminho. Acabou a comparação.

Ando pela orla de um dos paraísos visuais de Florianópolis. Procuro um lugar agradável pra ver o pôr do sol e tomar caipirinhas. Nada. Uma dezena de bares amontoados em sequências com cadeira de plástico e serviço desatencioso. Luz fria no teto, pra finalizar a falta de estilo. Não é prerrogativa da cidade. Há milhares de espaços deste tipo pelo Brasil. É a idéia de que o paraíso natural já se basta e nada mais é preciso ser feito. É a síndrome das bundas perfeitas, ou seja, que basta uma bom traseiro e já não é preciso mais nada, nenhum esforço laborativo. E o pior é que esse nosso país só valoriza o que veio pela mão divina, já em forma acabada, pronto pra consumo. É o gigante pela própria natureza, deitado eternamente em berço esplêndido...

Fique uma semana em Florianópolis e o ditado ganha agregados. Não são só a morte e os impostos que são certezas na vida. Vento em Floripa também entra pro time de eternidades.

De volta à terra natal.
Chegando em Piracicaba, passa-se por vários móteis que anunciam que a cidade está perto. Sempre achei que os móteis, assim como seus chamativos piscantes e nomes discretos como “Cê que sabe” causavam constrangimentos nos carros apertados das famílias em viagem. Mas correspondem a uma necessidade brasileira: a cultura de amantes e de moços-crianças. A prática é mais forte no interior, seja num como noutro caso. No primeiro, pela discrição que cidade pequena pede. No segundo, pela postergação da adolescência. Fulaninho em cidade pequena fica na casa dos pais até a hora de casar, não se importando de já estar na faixa dos trinta. O motel, com seu apelo individual, é a única lembrança de que ele já é um homenzinho crescido e é dono do seu próprio teto. Mesmo que seja espelhado.

Sacrifico uma tarde de sol pra ver Lula ganhar a coroa. Acompanho todo o discurso, que leva um primeiro tempo inteiro. Lembrando jogos do tricolor no interior em meio de campeonato, dou uma cochilada aqui e ali, acordando nos momentos de maior algazarra na arquibancada do Congresso. Sou dos que se emociona fácil em eventos históricos. Nesse não houve arrepios. O discurso de posse é de campanha, a quebra dos protocolos pela mesa foi patética e o puxa-saquismo de todos é, no mínimo, de dar gargalhadas.

Lula tirou a estrela do PT e pregou a bandeira do Brasil na lapela. Agora vale o refrão: a esperança começa a vencer o medo.

posted by The guy behind a screen @ 3:32 PM |

  Friday, January 10, 2003  

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As férias brasilis oficialmente continuam, mas foram abruptamente interrompidas pelo honroso anúncio do iBest Top 10. Terei que estancar o ócio etílico e me debruçar no ócio criativo. Amanhã tem texto ilustrado.

posted by The guy behind a screen @ 1:44 PM |

segredos da nossa
Língua Portuguesa
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