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Thursday, August 29, 2002
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Moby and Sacha
Metrópoles são um problema. Oferecem o paraíso perfeito da civilização. Quer teatro, tem. Cinema, aos montes. Concertos, abundam. Livrarias, em cada esquina.
Mas aí vem o coice. Se você não seguir o calendário e ocupar todas as suas apertadas noites entre a cama e o trabalho com um mega evento, a culpa vem a pontapés.
Pra fugir da auto-inquisição, fui conferir na terça que se passou os dois meninos do título.
Pros incautos, Moby é um dos precursores e mais festejados ícones da música eletrônica, fazendo fusões e experimentações com tudo o que faz barulho. O Beethoven da geração internet.
Sacha, seu filho pródigio, vem na esteira do mestre, mas ainda circunscrito a tudo que entre no mundo sintetizado...mas que dali não saia!
Em suma, o Ronaldo e o Ronaldinho no palco. E o olha que o palco também ajudou.
Na onda do “New York Forever Now More Than Never” (eu sei, é dose), os caras resolveram botar um shownzinho de graça no Pier 54. Pra quem não sabe, o lugar é um pier abandonado no West Side de N.York e, detalhe histórico, foi ali que os primeiros sobreviventes do Titanic chegaram.
Fazendo jus ao passado, o pier manteve a compostura. Três horas de show de primeira. Brisa quente no início de uma das últimas noites de verão novaiorquina. Tirando os cacoetes dos “garoto-problema-fundo-da-classe-MTV boy”, muito frequentado nesse pessoal, não houve do que reclamar. Fim de festa, rápido hamburguer.
De barriga cheia, dormi tranquilo.
Não, não foi o show, foi a sensação da agenda cumprida na metrópole.
Palmadas no Lula
Não dou meu votinho para o Sr. João Mellão, mas gosto de prestar atenção no que escreve. Faça o que digo...
Meu caro Lula
JOÃO MELLÃO NETO
Não é a primeira vez que lhe escrevo. Nem sequer o cabeçalho deste artigo-carta é original. Em novembro de 1989 - e lá se vão mais de 12 anos!-, sob o mesmo título, em me dirigi pessoalmente a você, fazendo-lhe um dramático apelo. Estávamos a poucos dias do segundo turno das eleições presidenciais, você se lembra? Suas chances de vitória eram enormes. E eu lhe dirigi um artigo, neste mesmo jornal, em que, com a maior franqueza, expus as imensas divergências ideológicas que nos separavam. O Muro de Berlim mal havia caído. O estrondo resultante ainda não reverberava por aqui. Você, então, era mais jovem. E, moço que era, muito mais radical. Seu discurso, irado, dividia a sociedade em explorados e exploradores. E confrontando uns aos outros, sua campanha incendiava o País. Eu lhe dizia que suas palavras me estavam deixando esquizofrênico. Como jornalista, empregado, eu era um explorado. Como agricultor, patrão, eu era um explorador. Não sabia mais dizer se eu era um bom ou um mau sujeito. E, como eu, milhões de brasileiros também não tinham como se enquadrar. Caso você fosse eleito, que tratamento nos dispensaria? Seríamos vistos como aliados ou como inimigos? Iríamos para o céu ou para o inferno?
Bem, agora pouco importa. Você perdeu aquela eleição e o juízo final, com isso, foi adiado. Pensando bem, foi melhor assim. Por mais dissabores que o presidente eleito viesse a nos trazer, a sua vitória, meu caro Lula, teria sido pior. Sinto muito dizer-lhe isso. Com você e seus companheiros no poder, teríamos ingressado na década de 1990 totalmente na contramão da História. Em plena era de globalização, abertura de mercados e modernização, haveríamos de conviver com um governo com forte viés nacionalista, xenofóbico e estatizante. As necessárias correções de rota tardariam a ocorrer e, possivelmente, estaríamos até agora correndo atrás do prejuízo, atrasados estrutural, econômica e tecnologicamente.
É duro dizer-lhe essas coisas. Afinal - e eu já reconhecia então -, você é nada menos do que a consciência social desta Nação. Mas seja honesto consigo mesmo. Você mesmo reconhece que mudou, e muito. O Lula rancoroso e preconceituoso de 1989 teria sido um bom presidente para o Brasil? Teríamos, sem dúvida, obtido alguns avanços na área social. Mas será que, no todo, teria valido a pena?
Suas barbas estão grisalhas. Você, hoje, é um homem experiente. Você evoluiu, o PT evoluiu e ambos, agora, estão mais maduros para exercer o poder.
Totalmente maduros? Não sei. E é você que terá de nos dizer. O desafio está aí, logo à sua frente.
Deixemos a demagogia, o simplismo e as frases de efeito de lado. Você está vendo os mercados alvoroçados e, não adianta negar, tem consciência de que o motivo de tanto tumulto é o seu favoritismo nas pesquisas eleitorais. De nada adianta alegar que a culpa é do atual governo.
FHC aumentou demais a dívida pública? Sem dúvida. Mas você sabe que a causa disso foi o fato de o governo federal ter assumido para si as pendências dos Estados, dos municípios, das autarquias e das estatais. Não adianta crucificar o governo por isso. Seria muito pior na situação anterior.
Reconheça isso e ganhe pontos em sua credibilidade.
Discursos eleitorais à parte, você intimamente sabe que não é possível desenvolver a economia sem um mínimo compromisso com a estabilidade da moeda, a obtenção de superávits nas contas públicas e a responsabilidade fiscal.
Por mais que os seus acólitos ameacem, você sabe também que sem credibilidade governo nenhum pode fazer nada. Ameaças de calotes ou "renegociações" compulsórias dos títulos públicos só servem para afugentar investidores e provocar evasão de divisas.
Ora, meu caro Lula, se você sabe de tudo isso, por que esse mistério todo?
Por que você não vem a público e declara literalmente o seu compromisso incondicional com a condução austera e responsável da economia em todos os seus aspectos? Todos, sem exceção!
Tudo bem, todos nós sabemos que você tem de estimular os seus radicais, alentá-los, acenar-lhes com posturas voluntaristas no campo econômico. Mas para tudo há um limite.
Você tem chances reais de chegar à Presidência da República. Não é mais possível transigir com nada. Os seus jacobinos já o fizeram perder três eleições. Deixe tudo como está e, sem dúvida, você perderá a próxima.
Se você quer realmente ser presidente, comece, desde já, a agir como tal.
posted by
The guy behind a screen
@
5:09 PM
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